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Última parada dos tropeiros que percorriam a Estrada Real antes de chegar ao porto de Parati, Cunha é uma região de muitos encantos. Estação climática situada a 45 km de Parati e à mesma distância de Guaratinguetá, em meio à Serra do Mar e da Bocaina, é o município que conserva a maior reserva de Mata Atlântica do país. O que vale dizer que ali se encontram dezenas de cachoeiras, milhares de nascentes e de riachos que correm sobre pedras e uma vegetação abundante rica em ipês, manacás, quaresmeiras, sibipirunas e um mundo de árvores floridas que abundam na Mata Atlântica.Cunha é também um importante pólo de cerâmica artística na América do Sul. Ali se instalaram, a partir de meados da década de 1970, ceramistas de formação japonesa que trouxeram para o Brasil uma técnica milenar de cerâmica artística, queimada a lenha em altíssima temperatura, em fornos chamados Noborigama. Muito atuantes, eles levaram adiante seu trabalho e formaram jovens discípulos que mais tarde abriram seus próprios ateliês.

Assim, a região tem hoje cinco ateliês de Noborigama em permanente funcionamento, um número que não se encontra mais nem no Japão (lá não há mais espaço para plantar lenha para queimar). Na década passada ceramistas de outras técnicas foram se radicando no município, que conta hoje com mais de vinte ateliês de cerâmica artística, produzindo peças de alta qualidade, nos mais variados estilos. Essa peculiaridade atrai, durante o ano todo, turistas de diversas regiões do país.

Em Cunha, é possível hospedar-se bem e comer bem. São mais de 40 pousadas com os mais variados tipos de acomodação e vários restaurantes que servem desde o trivial variado da comida caipira com influência mineira até a cozinha do interior da França, além de fondues ou receitas à base de trutas, pinhão e cogumelos shiitake, dos quais a região é grande produtora.

Outro grande produto da região é o sossego. A cidadezinha, pacata, não tem um único semáforo. Se alguém parar o carro para dar algum recado à comadre na calçada, quem está atrás espera pacientemente. Sob o céu azul e respirando um ar absolutamente puro, o visitante faz seus passeios às grandes cachoeiras, ao Parque Estadual da Mata Atlântica ou à Pedra da Macela, de onde se avistam 180 km de litoral, cuidando apenas para não atropelar vacas e galinhas pelo caminho.

Cunha começou a se constituir no final do século XVII como um local de parada e descanso de tropeiros. Durante o século XVIII o povoado que ali surgiu teve grande desenvolvimento, graças à movimentação de tropas que traziam o ouro de Minas para ser exportado para Portugal pelo Porto de Parati. Esse povoado, então, foi elevado à categoria de Vila e as trilhas que levavam ao porto foram calçadas pelos escravos que já estavam no país, trabalhando no desenvolvimento do Ciclo do Café, também exportado por Parati. A importância dessa atividade econômica, que foi fonte de imensa riqueza para o país no século XIX, trouxe grande desenvolvimento à região. Ainda hoje há remanescentes das trilhas construídas pelos escravos, que podem ser visitadas pelos turistas.

Em 1858 a Vila de Nossa Senhora da Conceição de Cunha alcançou a categoria de cidade mas, em 1888, com a libertação dos escravos, a atividade cafeeira entrou em declínio e Cunha começou a perder a importância que tivera até então na economia do país. O relativo isolamento a que foi submetida a partir daí é provavelmente uma das razões pelas quais a região conservou, até hoje, seu ar pacato e a lembrança de suas tradições religiosas e caipiras.

Anos mais tarde, durante a Revolução Constitucionalista de 1934, Cunha voltou a receber a atenção do país. Por três meses os soldados paulistas combateram uma tropa da Marinha que pretendia chegar a São Paulo atravessando o Vale do Paraíba.

Finalmente, em 1948, a cidade recebeu do Governo Estadual o status de Estância Climática.

Texto: Ana Maria Sanches Tonussi

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